Como culturas tradicionais lidavam com a fertilidade

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Muitos aspectos de nossos estilos de vida modernos não apoiam a fertilidade ideal. Além disso, perdemos de vista as práticas tradicionais que eram empregadas para melhorar a fertilidade e preparar nossos corpos para a gravidez.

O preparo para a gestação

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A preparação para a gravidez era uma consideração comum para os casais, embora provavelmente por razões diferentes das de hoje.

Alguns antropólogos descobriram que certos alimentos eram às vezes intencionalmente retidos das mulheres da tribo, particularmente alimentos de origem animal, em uma aparente tentativa de controlar a fertilidade. Por outro lado, quando a gravidez era desejada, essas comunidades forneciam maiores quantidades de alimentos ricos em nutrientes aos casais para preparar seus corpos para a concepção.

A importância da nutrição adequada

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O ciclo da reprodução - da concepção à lactação - é a tarefa mais nutritivamente cara para nossos corpos, por isso faz sentido que em períodos de restrição de nutrientes, o corpo prefere usar esses nutrientes para mantê-lo vivo em vez de alocá-los para a fertilidade. Em outras palavras, seu corpo prioriza a sobrevivência de curto prazo em detrimento da reprodução.

É precisamente por isso que irregularidades menstruais, desequilíbrios hormonais e outros desafios com a fertilidade são comuns em mulheres com distúrbios alimentares ou insegurança alimentar; seus corpos simplesmente não têm os recursos para poupar para um bebê se acontecer de engravidar, então o corpo opta por suprimir a ovulação e conservar energia.

Por exemplo, mulheres do povo indígena do Deserto do Kalahari, no sul da África, relatam que suas gestações tendem a ocorrer durante as estações de abundância de alimentos e não durante os tempos de “vacas magras". Estudos desse grupo confirmam um pico acentuado nos nascimentos na primavera, o que coincide com a concepção ocorrendo no verão, quando a ingestão de calorias e proteínas é a mais alta.

Estudos sobre a alimentação tradicional

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O Dr. Weston A. Price foi um dentista e pesquisador de nutrição do início do século XX que investigou as práticas dietéticas de várias culturas ao redor do mundo, a densidade de nutrientes de seus alimentos e a saúde geral dessas populações.

Os grupos estudados incluíam os suíços, os Gaels da Escócia, os Inuit, tribos malaias, os Maori da Nova Zelândia, povos indígenas no Canadá e nos Estados Unidos, tribos no leste e centro da África, ilhéus do Pacífico (polinésios e melanésios), aborígenes australianos, sul-americanos da bacia do Amazonas, e civilizações antigas e seus descendentes no Peru.

Ele encontrou diferenças notáveis no conteúdo de nutrientes dos alimentos tradicionais em comparação com os alimentos modernos, como açúcar e farinha de trigo. Muitos exemplos disso estão registrados no livro do *Dr. Weston A. Price, "Nutrition and Physical Degeneration".

No módulo seguinte separei algumas imagens comparativas para você conferir.

Relação entre a saúde e a alimentação

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Além disso, ele descobriu que a saúde dessas populações refletia diretamente o que elas comiam, observando que as pessoas que seguiam a dieta ancestral permaneciam livres de doenças e tinham filhos saudáveis e fortes. Em contraste, pais que incorporaram alimentos modernos em sua dieta sofreram mais problemas de saúde, assim como seus filhos.

A cárie dentária, o palato estreito, dentes tortos, deformidades (como pés tortos e defeitos do tubo neural), saúde imunológica fraca (maiores taxas de doenças infecciosas, como tuberculose), problemas psicológicos, infertilidade e vários outros problemas de saúde eram mais prevalentes em crianças de pessoas que comiam mais "alimentos modernos", como açúcar e grãos refinados, e menos de seus alimentos tradicionais.

Alimentação especial para tentantes

Antes de termos a fortificação de alimentos e a segurança alimentar a que estamos acostumados no mundo desenvolvido, a falta de nutrição era uma consideração importante ao planejar uma gravidez. Não havia uma "apólice de seguro" por meio de vitaminas pré-natais; sua dieta era a única opção.

Price observa que, nas culturas que estudou, essas sociedades tinham um "sistema de programas nutricionais cuidadosamente planejados para futuras mães" que envolvia um "processo de alimentação especial muito antes da concepção" como meio de acumular reservas de nutrientes.

Ele explica ainda que, "em alguns casos, alimentos especiais são dados aos futuros pais":

  • Tribos da África 💍
  • As mulheres comiam alimentos especiais por seis meses antes do casamento.

  • Povo Maasai 🐄
  • As mulheres eram obrigadas a esperar pelo casamento até a época do ano em que as vacas estavam gordas e usar o leite dessas vacas por um determinado número de meses antes que pudessem se casar.

  • Ásia e no norte da Índia 🥛
  • Produtos lácteos de alta qualidade eram considerados alimentos de fertilidade.

  • Fiji 🦀
  • Um tipo específico de caranguejo era fornecido às futuras mães para melhorar a saúde física e mental das crianças.

  • Inuits do Alasca ❄️
  • Ovos de peixe eram preferencialmente dados a mulheres em idade fértil, enquanto os homens recebiam o fluido seminal do salmão para aumentar sua fertilidade.

Curiosamente, mesmo as comunidades que não estavam perto do oceano faziam grandes esforços para obter esses alimentos por meio do comércio. Por exemplo, quando perguntado aos povos indígenas da América do Norte por que buscavam regularmente ovos de peixe seco, eles explicaram que “era necessário manter a fertilidade de suas mulheres”.

Atualmente, entendemos que os frutos do mar, especialmente peixes gordurosos, ovos de peixe e mariscos, são ricas fontes de nutrientes vitais para a fertilidade.

Valorização das vísceras

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As vísceras também eram valorizados por seu valor nutricional. As comunidades inuítes do extremo norte relataram enfatizar “alimentações especiais de órgãos de animais” para aqueles que se preparavam para conceber. Na verdade, os miúdos eram preferidos, e os cortes magros de carne eram dados aos cães.

Nessas culturas nada é desperdiçado, incluindo os ossos, que eram divididos para extrair a medula rica em nutrientes e fervidos em sopas e ensopados nutritivos. Uma das maiores contribuições de Price para a nossa compreensão da nutrição foi a sua documentação da importância das gorduras, especialmente as gorduras animais, para a saúde humana.

Isso contraria as diretrizes dietéticas modernas, que nos instruem a buscar a carne mais magra e optar por mais alimentos à base de plantas.

As culturas tradicionais cuidavam muito bem do planejamento pré-concepção, sabendo que tais esforços melhorariam as chances de uma gravidez saudável e protegeriam a saúde da mãe e do bebê.